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Inseminação artificial testada em cervos aponta caminho para salvar animais ameaçados de extinção


Técnica desenvolvida por pesquisadores da Unesp em Jaboticabal (SP) é mais segura e menos invasiva. Procedimento realizado em 20 veados-catingueiros apresentou 50% de eficácia, porcentagem considerada excelente por especialistas. Veados-catingueiros foram modelo para estudo da Unesp em Jaboticabal, SP, que desenvolveu técnica de inseminação artificial em animais José Maurício Barbanti/Unesp Um estudo inédito realizado por pesquisadores da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal (SP) em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) pode ser o caminho para salvar espécies ameaçadas de extinção em todo o mundo. Siga o canal g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp Isso porque, a partir da inseminação artificial transcervical em cervídeos, a equipe liderada pelo professor José Maurício Barbanti desenvolveu um método mais seguro, mais eficiente e menos invasivo para a reprodução de espécies. A pesquisa foi publicada na revista científica Nature Research, uma das mais importantes da atualidade. A técnica foi testada em cerca de 20 veados-catingueiros e apresentou 50% de eficácia, porcentagem considerada excelente pelos pesquisadores. Técnica foi testada em cerca de 20 veados-catingueiros e apresentou 50% de eficácia José Maurício Barbanti/Unesp Para se ter uma ideia, a laparoscopia, método mais utilizado para inseminação artificial de animais silvestres, tem eficácia de cerca de 30%. No procedimento, o animal recebe anestesia geral inalatória e tem o abdômen cortado e a cavidade abdominal insuflada com gás carbônico. "Laparoscopia é uma técnica bastante invasiva, porque tem de virar o animal praticamente de ponta-cabeça, onde for insuflar o abdômen dele. Quando você insufla o abdômen, ele regurgita muito o rúmen [primeiro compartimento do estômago do animal]. Por mais que você faça algum jejum, não consegue tirar todo o líquido dali, então o bicho regurgita muito, dá depressão respiratória, então tem uma série de problemas com a laparoscopia", diz Barbanti. Segundo ele, a laparoscopia ainda aumenta o risco de morte de animais. "Quando voltam da anestesia, muitos animais acabam aspirando o conteúdo ruminal e isso dá uma pneumonia e essa pneumonia, muitas vezes, leva à morte. Já chegamos a perder alguns indivíduos com essa técnica de laparoscopia. Ela é segura, mas existem problemas". Por isso que o método de inseminação artificial transcervical desenvolvido pela Unesp é tão importante. Na técnica, a fêmea é sedada e é utilizado um instrumento para afastar as paredes da vagina, facilitando a deposição do sêmen por meio de pipetas. LEIA TAMBÉM Estudo da Unesp usa imunoterapia para humanos no tratamento de câncer agressivo em cães Três vezes que pesquisadores em Ribeirão Preto contribuíram com a ciência no mundo Estudo aponta como drogas psicodélicas podem se tornar aliadas no tratamento da depressão Com os resultados animadores alcançados, outros estudos serão desenvolvidos para aplicação e adaptação do método em outras espécies ameaçadas, diz a médica veterinária Gabriella Saloni Duarte, doutoranda pelo Núcleo de Pesquisa e Conservação de Cervídeos (Nupecce) da FCAV. "As biotecnologias da reprodução tornam-se cada vez mais úteis para a conservação da fauna. A reprodução de espécies em cativeiro, por meio de reprodução assistida, pode auxiliar o aumento populacional e o encaminhamento para programas de reintrodução ou acréscimo de espécies ao meio ambiente". Veado-catingueiro é uma das 8 espécies de cervídeos encontradas no território brasileiro Divulgação/Uece Ainda segundo Gabriella, as tecnologias de reprodução assistida possibilitam o intercâmbio de material genético entre populações de cativeiro e vida livre, evitando a depressão endogâmica e a perda de material genético nas pequenas populações, além de reduzir os riscos de translocação de animais para fins reprodutivos, permitindo a união de casais que apresentem incompatibilidade sexual. "Os resultados alcançados são de suma importância para que agora se adapte a técnica para espécies ameaçadas. Um novo estudo vem sendo desenvolvido no Nupecce adaptando a técnica para cervo-do-pantanal, espécie ameaçada de extinção e que apresenta novos desafios". Novo estudo do Nupecce vai adaptar técnica de inseminação artificial para cervo-do-pantanal, espécie ameaçada de extinção Michele Gimenes Método é adaptação de técnica já utilizada O novo método desenvolvido por pesquisadores da Unesp é uma adaptação da técnica de inseminação artificial transcervical já utilizada em caprinos e ovinos. A diferença, explica Gabriella, está principalmente na contenção química utilizada em cervídeos. "A contenção química também difere da de ovinos, onde os animais passam apenas por uma tranquilização, ficando em estação com bloqueio epidural, o que é inviável em cervídeos, pois, além da alta sensibilidade ao estresse, podem vir a óbito caso encerrem o procedimento sem os movimentos pélvicos". Apesar da semelhança anatômica entre cervídeos e ovinos, as dimensões são diferentes e a equipe também precisou adaptar instrumentos utilizados no procedimento. "Cervídeos apresentam uma vagina bem mais estreita que a dos ovinos e muito mais longa. Logo, foram desenvolvidos instrumentais cirúrgicos adaptados para as espécies: espéculos, pinças pozzis, pipetas de inseminação, pinça de fixação cervical e protocolos anestésicos e analgesia". Segundo a veterinária, também há diferença no posicionamento do animal para o procedimento. "Ovinos ficam em estação e cervídeos recebem contenção química e ficam em decúbito esternal, com membros pélvicos flexionados". Técnica de inseminação artificial desenvolvida pela Unesp em Jaboticabal, SP, é compatível com a anatomia do animal José Maurício Barbanti/Unesp A anatomia cervical de cervídeos, explica Gabriella, foi um dos maiores obstáculos para que o estudo pudesse apresentar resultados satisfatórios. "A técnica de inseminação artificial via transcervical não era aplicada, pois a anatomia cervical destas espécies apresentam alguns desafios. A cérvix é a porção final da vagina e, nestas espécies, apresenta diversos anéis cervicais desalinhados, tortuosos e com dimensões reduzidas, sendo o maior obstáculo para viabilizar a inseminação artificial transcervical". O método desenvolvido pelos pesquisadores da Unesp faz a fixação e tração cervical por meio de pinças para alinhar os anéis cervicais, facilitando a transposição e a deposição do sêmen no útero. Modelo experimental Ainda segundo a veterinária, o estudo se concentrou em veados-catingueiros porque a espécie é classificada com risco de extinção pouco preocupante pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN na sigla em inglês). Além disso, é uma das mais abundantes tanto na natureza quanto no cativeiro, e tem ampla distribuição na América do Sul. "Geralmente, se preconiza utilizar uma espécie abundante e pouco vulnerável inicialmente, para que, posteriormente, após a validação da técnica, possa se aplicar em espécies ameaçadas, oferendo assim, menor risco a estas. Isso faz com que tais espécies possam servir como modelo experimental para estudos reprodutivos, que poderão ser aplicados futuramente em espécies com algum grau de ameaça e que não permitem um manejo tão intenso". Veado-catingueiro foi utilizado como modelo experimental para estudo que pode ser aplicado futuramente em espécies ameaçadas de extinção José Maurício Barbanti/Unesp Apesar de ter começado com veados-catingueiros, o estudo já abrange outras espécies de cervídeos mais ameaçadas, diz Barbanti. "O projeto inicial foi feito com o veado-catingueiro, mas hoje a gente já está usando pra veado-mateiro-pequeno, veado-campeiro, que são espécies bem mais ameaçadas, bem mais sensíveis. A técnica foi estabelecida com o veado-catingueiro como uma espécie modelo e hoje já transferida para espécies ameaçadas". Técnica desenvolvida pelos pesquisadores da Unesp em Jaboticabal (SP) faz a fixação e tração cervical por meio de pinças para alinhar os anéis cervicais José Maurício Barbanti/Unesp Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto e região

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