No interior de São Paulo, concentração de substâncias levou classificação da qualidade do ar a nível "muito ruim" ou "péssimo". Qualidade do ar está ‘muito ruim’ há 4 dias em Ribeirão Preto, SP Diferentes regiões do país têm vivido sob condições respiratórias críticas em meio a queimadas, estiagens prolongadas e muita fumaça, que têm tomado o cenário urbano. A qualidade do ar, medida por institutos como a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), chegou à pior classificação no fim de agosto, como "péssima", e, nos últimos dias, têm permanecido em um nível "muito ruim" em localidades como Ribeirão Preto (SP). Siga o canal do g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp Entre os principais parâmetros para essa avaliação está a medição das chamadas partículas inaláveis, ou seja, substâncias suspensas no ar que, de tão pequenas, conseguem ser absorvidas pelo nosso organismo na respiração. "Essas partículas fazem parte de uma classe chamada de aerossóis. Aerossol é toda partícula que está em suspensão do ar, e esse aerossol tem diferentes nomes, conforme a origem deles", explica o professor de engenharia química Murilo Innocentini, em entrevista à EPTV, afiliada da TV Globo. Nos tópicos a seguir, entenda um pouco mais sobre as partículas inaláveis e como elas são prejudiciais para a saúde. O que são partículas inaláveis e qual a origem delas? Qual é o tamanho das partículas inaláveis? Por que a concentração de partículas está tão alta? Quais riscos para a saúde humana? Imagem de drone mostra Ribeirão Preto coberta por fumaça de incêndios. Reuters O que são partículas inaláveis e qual a origem delas? O professor explica que as partículas inaláveis são aerossóis, ou seja, em suspensão no ar, mas possuem origens diferentes. Uma das principais é a poeira, que consiste na suspensão de materiais inorgânicos do solo. "Poeira é um tipo de aerossol e causa esse efeito de baixa qualidade do ar, principalmente em épocas secas, épocas de vento, principalmente em agosto, que é um mês propício ao vento, e a umidade relativa baixa, o que faz com que essas partículas existam", diz. Outro tipo de aerossol é a fumaça, resultante da combustão incompleta, sobretudo das queimadas que têm destruído plantações e áreas de preservação nas últimas semanas. Ela é mais leve e se espalha mais rápido que a poeira. Queimada em canavial às margens do Anel Viário Norte em Ribeirão Preto, SP Marcelo Moraes/EPTV "Era pra queimar tudo e não sobrar nada, era só pra gerar da queima o gás CO2 e vapor d’água, porém a queima não é completa. E essa queima não completa gera uma partícula muito pequena, é menor do que a partícula de poeira e, por ser menor, se espalha mais rapidamente. (...) Ela demora mais tempo pra cair no solo e a gente ter uma eliminação delas." Outro exemplo de aerossol existente é o fumo, parecido com a fumaça, mas geralmente resultante da queima de metais e, por isso, com potencial mais tóxico. "O fumo é um material particulado também, é uma partícula pequeninha, em suspensão, é um aerossol e nasce principalmente quando você aquece demais o material que era para estar sólido. Ele vaporiza depois se condensa, normalmente são metais, partículas metálicas, são óxidos de metais", afirma Innocentini. Qual é o tamanho das partículas inaláveis? Um outro aspecto importante com relação às partículas é sobre o tamanho delas. Independentemente da origem, essas substâncias geralmente são classificadas em uma escala 1 mil vezes menor do que 1 milímetro, o mícron - ou micra, no plural. É nessa escala que as substâncias apresentam o risco de serem inaladas pelo corpo quando respiramos pelo nariz. "Essas partículas podem ter diferentes tamanhos. Quanto maior a partícula mais facilmente o Planeta Terra puxa pra baixo pela gravidade, mais rápido ele se sedimenta, para no chão, e a gente evita de respirar ele. Nós vamos inalar material particulado, essas partículas, conforme elas passam por essa região de respiração. Então quanto mais leve ela for, e menor em tamanho, mais facilmente o nosso nariz puxaria pra dentro, isso a gente chama de inalar." Centro de Ribeirão Preto (SP) amanhece coberto por fumaça neste sábado (24) após incêndios no interior de São Paulo Reprodução/EPTV Segundo Innocentini, coisas menores do que 100 micra entram no nariz, mas nem tudo vai parar no nosso pulmão. "Parte para no nariz, nos pelos, no muco, vai parar na garganta, na região da traqueia", exemplifica. Para aquilo que, ao contrário disso, consegue avançar e chegar à nossa corrente sanguínea, as classificações utilizadas atualmente pela Cetesb são MP.10 e MP.2.5, que nada mais são do que materiais particulados com diferentes tamanhos na escala mícron. O MP.10, chamado simplesmente de partícula inalável pela Cetesb, é o material particulado de 10 micra, que, de tão pequeno, é quase impossível de ser percebido pelo tato. Para se ter uma ideia, um grão de areia tem 90 micra. "Se você pegar a farinha de trigo, que tem 10 micra, 5 micra, você nem sente o grãozinho. Se você for lá e tentar separar com o dedo uma partícula da farinha de trigo você não vai conseguir, não vai ter sensibilidade", explica o professor de engenharia química. Também chamadas de partículas inaláveis finas, os MP.2.5 são quatro vezes menores do que os MP.10 e para muitas autoridades internacionais de saúde são os mais perigosos da atualidade. "Inalar é a gente puxar o ar pra dentro, respirar significa que vamos mandar o oxigênio daqui fora pro pulmão pra ele trocar de gases, ele pega o oxigênio e libera o CO2, é assim que a gente respira, só que lá no pulmão, nos alvéolos, que é a região de troca de gases com o sangue, tem partícula tão pequena que consegue escapar do nariz, da boca, e entra sem a gente conseguir reter." Fogo em canavial na região de Morro Agudo (SP) nesta quarta-feira (28) Reprodução/EPTV Por que a concentração de partículas está tão alta? Nos parâmetros da Cetesb, que segue padrões estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), a concentração de materiais particulados de 10 micra (MP.10) deve ser de até 50 microgramas por metro cúbico para ser considerada boa para a saúde humana e de até 100 para ser moderada. Mas o que tem ocorrido nas últimas semanas tem preocupado as autoridades. As classificações recentes têm variado entre "muito ruim" ou "péssimo", com concentrações que chegaram a mais de 150 microgramas por metro cúbico. Em 24 de agosto, no fim de semana que teve um dos piores momentos da estiagem e dos focos de incêndios, Ribeirão Preto registrou, por volta das 19h, uma concentração de 1 mil microgramas por metro cúbico. Sol encoberto pela fumaça na região de Ribeirão Preto (SP) Reprodução/EPTV Esses níveis de concentração, segundo o professor de engenharia química, são resultantes de uma combinação de eventos, a começar pelos ventos, muito propícios nessa época do ano, que recolocam em suspensão a poeira que já estava sedimentada. "Aquela poeira vermelha, que inclusive dá aquela coloração no final da tarde, principalmente na região de Ribeirão Preto em que o solo é vermelho, porque é rico em ferro, isso é a poeira. Dentro dessa poeira tem o MP.10." Somadas a isso, vêm as queimadas intensas, que geram fumaça. "A queimada também gera partículas muito pequenas da família do MP.10." Para piorar a situação, a umidade relativa do ar a níveis extremamente baixos - em Barretos (SP), chegou a 7% - cria um cenário favorável para espalhar ainda mais as substâncias. Quais riscos para a saúde humana? Como os materiais particulados podem ter diferentes origens, os riscos à saúde dependem justamente da composição dessas substâncias. Como exemplo, o professor cita os perigos da inalação de compostos que contenham sílica, um tipo de mineral encontrado na natureza. "Ela pode causar uma doença que se chama pneumoconiose ou silicose, porque entra no sistema respiratório e o corpo não tem mecanismo de defesa pra se livrar dela, então ele começa a formar um cisto no pulmão e a gente vai perdendo a capacidade respiratória", explica. Pessoas que já enfrentam problemas respiratórios estão ainda mais suscetíveis aos impactos dessas partículas. "A gente ainda tem o caso de as pessoas que têm asma, que já têm complicações respiratórias, tudo isso é um agravante." Em condições naturais, um cenário de poluição desses apenas melhora com a incidência de chuvas, que sedimentem as partículas suspensas. Enquanto elas não chegam, os moradores não têm muitas alternativas, mas devem adotar alguns cuidados para amenizar os prejuízos à saúde. Evitar lugares abertos, principalmente com maior vento e insolação, reforçar a hidratação são algumas delas. Além disso, o uso de máscaras faciais, tão recomendado na pandemia da Covid, é um importante aliado e ainda mais eficaz, já que o vírus é ainda menor do que essas partículas, com um tamanho que varia entre 0,1 e 0,3 mícron. Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região
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https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2024/09/07/particulas-inalaveis-saiba-a-origem-e-os-riscos-para-a-saude-humana-com-tempo-seco-e-incendios.ghtml
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